domingo, 14 de junho de 2009

Gessy Gesse, a paixão baiana de Vinícius de Moraes

Por Marcia Glenadel e Maria Helena Avena


A primeira vez que Vinicius de Moraes viu Gessy Gesse foi numa pizzaria no Leblon, no Rio, em 1969. Ele, carioca, já era um dos maiores poetas brasileiros e um dos pais da Bossa Nova. Ela, atriz do Cinema Novo baiano, estava na companhia da cantora Maria Bethânia e de outros conterrâneos que moravam na capital carioca.

Depois de receber um recado (que guarda até hoje) com o número do telefone de Vinicius, Gessy ouviu de Bethânia: “O poeta está apaixonado por você”. Esperto, Vinicius combinou com todos que estavam à mesa com a atriz que, aos poucos, saíssem do restaurante e deixassem Gessy sozinha. E foi assim que ele, aos 56 anos, conquistou a bonita morena de 31, de ascendência índia e portuguesa.

A história de amor com Gessy Gesse começou com Vinicius ainda casado com Cristina Gurjão, grávida de cinco meses e abandonada pelo poeta, encantado pela baiana Gessy, que se tornou sua sétima mulher.

Em 1969, Vinicius e Gessy se casam no Uruguai e, em 1973, na Bahia, em um ritual cigano, e não em uma cerimônia no terreiro de Mãe Menininha de Gantois, como muitos pensam. Após o casamento, Vinicius decidiu construir uma casa em Itapuã. As obras foram iniciadas em 1974, com projeto de Jamison Pedra e Sílvio Robatto. O cômodo mais singular da casa de seis quartos era o banheiro da suíte do poeta com banheira com vista para o mar.


Hoje, a casa de Itapuã foi incorporada ao Mar Brasil Hotel, e, em frente a ela, foi construída uma praça com uma estátua de bronze do poeta sentado em uma mesa de bar, como ele gostava de estar.

Cada novo amor inspirava o poeta, e com Gessy Gesse não foi diferente. Para ela, ele compôs as músicas Morena Flor, Regra Três e Samba de Gesse, além do “Soneto de Luz e Treva”.
Gessy Gesse terminou de escrever um livro que conta episódios acontecidos ao longo dos sete anos que viveu com o Poetinha. Vinicius, o homem que eu amei está sendo negociado com editoras e não se sabe quando será lançado.

Confiram abaixo, o depoimento de uma das repórteres, que teve o privilégio de ser vizinha do casal e uma entrevista com Gessy Gesse, clicando aqui.

UMA PAIXÃO BAIANA, COM AS BÊNÇÃOS DO SENHOR DO BONFIM
*depoimento de Maria Helena Avena, soteropolitana radicada no RJ, que foi vizinha do Poetinha e de Gessy Gesse na terra da Baía de Todos os Santos. Saravá!

Tudo o que acontece na vida tem uma razão e um dia. Com certeza descobrimos o porquê de termos vivido ou experienciado aquele fato ou acontecimento. Eis que agora tenho a oportunidade de falar sobre fatos que ocorreram, nos idos de 1970, quando eu morava em Salvador, no bairro, cantado belamente pelo poeta Vinicius, de Itapuã ou, como também se escreve, Itapuan. O baiano é de fato singular, até na grafia.

Àquela época, eu morava na Rua J e era vizinha de Juca Chaves. A casa de Vinicius e Gessy Gesse ficava a cerca de um quarteirão, em frente ao Farol de Itapuã. O bairro era conhecido como “dos artistas” e muitos deles estiveram por lá morando ou veraneando (como se diz lá na terrinha).

Itapuã era uma grande aldeia e todos se conheciam e frequentavam praticamente os mesmos lugares. Uma grande festa “democrática”. Um dia, em festa na casa de um amigo do bairro, que conhecia todos (como, aliás, é característica do baiano, se enturma fácil), tive o privilégio de encontrar a Gessy Gesse, uma pessoa super simpática e charmosa. A primeira vez que a vi, ela ainda não era casada com Vinicius e, como é normal nas reuniões por lá, todos se enturmam com todos e quem não se conhece vira verdadeiro amigo de infância do outro rapidamente, é só perguntar: “– De que família você é?”, e pronto: desfilam imediatamente nomes os mais diversos e de repente você vira até parente do até então desconhecido.

Algum tempo depois soube, por esse mesmo amigo, que a Gessy tinha conhecido o Vinicius e os dois namoravam apaixonadamente. E como era esperado do poeta, casou-se com a Gessy e se mudaram pra essa casa de Itapuã.

Pouco tempo depois recebi um telefonema desse amigo, avisando que a Gessy tinha convidado todo o grupo, daquela festa, para a celebração de inauguração da nova casa, onde iria morar com Vinicius. Fomos todos e foi muito especial. Havia pessoas conhecidas de todo o Brasil, além dos amigos baianos; uma farra! Conhecemos a casa toda, que ficava em meio a um terreno de esquina, e tinha (àquela época) os muros baixos e um belo jardim. Era uma casa de dois pavimentos, e o que achei de mais curioso foi o banheiro do casal, onde havia uma banheira enorme em frente a uma grande janela de vidro que permitia uma visão panorâmica da praia (para poder olhar o mar, pois Vinicius não ia à praia jamais).

A imensa banheira era rodeada por um pequeno bar, uma mesa para sua máquina de escrever e cadeiras. Segundo dizia o povo, enquanto Vinicius tomava longos banhos de imersão recebia os amigos naquele local e conversavam tranquilamente. Excentricidade dos mestres... Ele costumava dizer, em roda de amigos, que ali era um local onde se inspirava para compor suas mais belas canções.

O casal estava de fato apaixonadíssimo; todos notavam isso e como Vinicius mesmo dizia: “que seja infinito enquanto dure”. Com certeza ele viveu essa paixão intensamente, bebendo-a até a última gota, com um velho calção de banho e todo o dia pra vadiar, em frente ao um mar que não tem tamanho, olhando um arco-íris no ar e falando de amor pra sua paixão baiana, em Itapuã.

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