terça-feira, 2 de junho de 2009

O melhor da música brasileira na Toca do Vinicius

Foto: Arquivo pessoal

Carlos Alberto Afonso, proprietário da TOCA DO VINICIUS, anuncia, na calçada da livraria, o 1º FESTIVAL DE VERÃO BOSSA NOVA - RIO, que realizou em fevereiro de 2009 e, a seguir, a tradicional festa de ANIVERSÁRIO DO RIO.

Por Carolina Bellardi, Diego Veríssimo, Eliane Rabello, Manuela Motta e Patrícia Marinho


A Toca do Vinícius é um espaço cultural, localizado em Ipanema, que reúne o melhor da música carioca. Em um ambiente descontraído e aconchegante, Bossa Nova, Samba e Choro marcam presença absoluta. Também conhecido como Templo da Bossa Nova, o local possui um espaço cultural dedicado à realização de eventos, onde acontecem palestras e exibição de vídeos. Na Toca também se encontra o Museu da Bossa Nova, que agrega tudo o que há de mais valioso do gênero musical. O visitante pode ainda assistir, uma vez por mês, shows públicos que acontecem na “Calçada da Fama” de Ipanema.

Carlos Alberto Afonso, ex-professor de literatura, é o responsável por este agradável patrimônio da música brasileira, que há mais de 15 anos encanta todos os admiradores da Bossa Nova. Autor do livro ABC de Vinicius de Moraes, lançado em 1991, Carlos, fala em entrevista ao Blog, como nasceu sua admiração por Vinícius e sobre a importância de homenagear grandes compositores que marcaram geração. Veja a seguir a entrevista com o proprietário da Toca.

BANHEIRA DO VINICIUS: Carlos, fale um pouco sobre o que é a TOCA DO VINICIUS e suas atividades.

CARLOS ALBERTO AFFONSO: A livraria TOCA DO VINICIUS foi fundada em 27 de setembro de 1993 com os objetivos de editar, publicar e/ou simplesmente comercializar livros, revistas, jornais e afins. Comercializar discos, cds e dvds e mídias audiovisuais em geral, além produtos artesanais nos diversos materiais (papel, tecido, madeira, vidro, cerâmica, ferro, etc. E comercializar instrumentos musicais.

Muito importante acrescentar que, por opção de projeto, a TOCA se dedica à música e privilegia a referência musical local (nas dimensões da Cidade e do Bairro), com especial ênfase sobre a Bossa Nova.

B.V: Como nasceu a idéia de criar um espaço cultural ?

C.A.A.: Tenho hereditária necessidade de me manter articulado, o mais amplamente possível, com a sociedade. O magistério foi este instrumento durante a maior parte de minha vida.
Penduradas as chuteiras da sala-de-aula, passei a construir um outro instrumento de articulação. Ronaldo Bôscoli me convidou para, juntos, fazermos a Casa da Bossa Nova, pois ele sabia que este era também meu desejo. Ronaldo adoeceu e pouco depois partiria. Eu toquei meu barco com uma cara mais pedagógica do que a que ele faria (certamente). Sei que ele aprovaria meu esforço, que começou pela livraria, vendendo um livrinho, um disquinho...e, pouco-a-pouco, avançando com o projeto sem quaisquer vínculos ou interferências. Tudo tão pessoal quanto a própria paixão geradora.

Através da livraria e, em torno dela, fui construindo um verdadeiro centro de referência da Bossa Nova. Em 2008, ano do cinqüentenário da Bossa, demos personalidade jurídica ao CRBN. A partir de então, todas as realizações informais da Livraria passam a constituir, formalmente, o material de trabalho do CRBN, em cujo Projeto a TOCA é a Livraria de Música. E pedra fundamental.

Se eu fosse um poeta, diria que a TOCA é MEU POEMA; se eu fosse um compositor, diria que a TOCA é MINHA CANÇÃO; se eu fosse músico, diria que a TOCA é MEU CONCERTO; sendo operário, eu digo que a TOCA é MINHA CONSTRUÇÃO.

Em 1994, a TOCA editou e publicou o livro do Centenário do Bairro: o excelente VILLA IPANEMA. E, no mesmo ano, meus filhos (pioneiros em tocar a TOCA) trouxeram à luz um Projeto em formato tablóide chamado JORNALZINHO. Um total de 10 edições, cada uma das quais dedicada a um ícone. RONALDO BÔSCOLI foi o número zero.
A TOCA editou e publicou também, na mesma época, um emocionado trabalho escrito pelo secretário do grande comandante da Bossa. Não abri mão de escolher o título : RONALDO BÔSCOLI : O SENHOR BOSSA NOVA.

B.V.:A Bossa Nova possui grandes nomes que marcaram época, por que homenagear Vinicius ?

C.A.A.: Seu espanto está cobertíssimo de razão. Minha própria visão ortodoxa de Bossa Nova sinaliza claramente, desde sempre, com a precedência de alguns nomes-arquitetos e até de alguns nomes-engenheiros da Bossa. Confesso para você o seguinte: na química desta decisão, houve uma forte carga emocional acumulada ao longo de muitos anos e multiplicada naquele 1993, pela insensibilidade do mercado... Enfim era momento de muita, muita emoção... Eu não teria dificuldade alguma para inventariar algumas razões objetivas para a escolha, mas o emocional, realmente, prevaleceu. Discorro fartamente sobre isso no livro que preparo para mais adiante. Antecipo, em suma, que aquele instante, quando criei a TOCA, era bem diferente dos nossos dias. E isto pode ser o ovo de Colombo, o óbvio que ninguém considera.

Minha circunstância era diferente e a circunstância Vinicius, completamente diferente de hoje. De tal forma queDigo prá você que, o nome Vinicius, para mim, não era uma homenagem, mas uma bandeira que este seu admirador levantou para responder ao ao mercado, em 1993. Tenho orgulho da decisão que tomei. Meus íntimos, também. E estiveram sempre ao meu lado nesta luta sem fim contra os moinhos. Uma luta em que só os quixotes e os moinhos não mudam de lado. Mas você tem toda razão: Bossa Nova é, antes e acima de tudo a música do músico. João Gilberto, Tom Jobim, Newton Mendonça, Carlos Lyra, Roberto Menescal, Durval Ferreira, Maurício Einhorn, João Donato, Johnny Alf, Leny Andrade (que tem um instrumento na garganta) estão em mim, com Bôscoli comandando tudo e ainda arrumando tempo para escrever que o "RIO É SOL, É SAL, É SUL"... Mais Bossa que isso só no "FOTOGRAFEI VOCÊ NA MINHA ROLLEYFLEX"

B.V.: A escolha do endereço da Toca (Rua Vinicius de Moraes) foi proposital?

C.A.A.: Não. O primeiro alvará da TOCA foi no mesmo quarteirão em que estamos hoje, mas não na mesma rua. A TOCA nasceu como pessoa jurídica numa galeria da Visconde de Pirajá. E ali permaneceu durante os dois primeiros anos. Só em meados de 1995 é que a TOCA veio para a Rua Vinicius de Moraes. Tudo que queríamos era trocar a galeria pela rua. O resto foi oportunidade.

B.V.: Como conseguiu reunir um acervo tão rico sobre a música brasileira, especialmente sobre a Bossa Nova ?

C.A.A.: Pra início de conversa, a fórmula básica é ter legitimidade diante de quem te doa e coragem diante de quem te vende. Na verdade, meu acervo representa meu assunto : Bossa Nova + Ipanema + Rio. Algumas peças eu tive que comprar, inevitavelmente. Grande parte recebi como doação. Nenhuma dificuldade. O resultado mais do que lógico do trabalho e da legitimidade. Sei que ninguém me doaria uma camisa do rei Pelé (apesar de minha paixão por futebol). Em contrapartida, dificilmente alguém doaria o 78 RPM do Chega de Saudade para o Museu do Futebol, com toda a idoneidade que tenha (se existir).

B.V.: Que tipo de pessoas passam pela Toca e que tipo de material sobre a vida e a obra de Vinicius de Moraes está disponível?

C.A.A.: A TOCA é frequentada por amantes da música - especialmente da Bossa Nova, é claro - de todas as raças, credos, gerações e lugares. É meu instrumento de articulação com o segmento bossanovista da grande sociedade humana.

Agora, você, muito gentilmente, está me dando oportunidade para divulgação de minha pequena livraria. E eu te agradeço muitíssimo. Precisamos sempre desse tipo de ajuda, mas, a bem da verdade, a obra de/sobre Vinicius de Moraes está em toda e qualquer livraria da cidade.

B.V.:Fale um pouco sobre a Calçada da Fama de Ipanema.

C.A.A.: Outra paixão. Meu saudoso amigo Caio Mourão escreveu em seu PRATA DA CASA que eu era o único sujeito que gostava mais-que-ele da Calçada da Fama. Ela completa 40 anos agora em agosto de 2009. Para mim, é um dos mais representativos monumentos de Ipanema, pois o bairro é jovem (115 anos) e a Calçada da Fama de Ipanema reúne mãos centenárias, elas mesmas escultoras do próprio monumento. Neste momento, em 24 de maio de 2009, estamos na 75ª placa. Chegaremos a 100 placas. A linda estrutura do momumento é uma concepção do Arquiteto Paulo Casé.

B.V.: Você chegou a conhecer Vinicius pessoalmente ?

C.A.A.: Não. Jamais estive pessoalmente com Vinicius de Moraes. Eu o vi muitas vezes, na rua, no botequim, num restaurante, num show, mas nunca falei com ele. Muito mais tarde, quando li que ele se "livrava dos chatos, se desligando", eu pensei:"como foi bom não ter corrido esse risco". Acompanhei Vinicius a distância, mas sempre cuidadosamente. Entrei mais fundo na vida dele em 9 de julho de 1980. No dia de sua morte. Não esperava sentir como senti. Não esperava mesmo.

B.V: Ao longo de sua vida, Vinicius teve muitas faces: foi poeta, crítico de cinema, diplomata e etc. Dentre essas faces de Vinicius, há alguma que admira mais ?

C.A.A.: Vinicius de Moraes tem textos lindos, letras de canções fantásticas e histórias muito engraçadas. Gosto muito de tudo isso, mas a determinação dele - para mim - fez a diferença.

B.V.: Qual a importância de espaços culturais como a TOCA para a música brasileira e para os poetas e compositores da atualidade ?

C.A.A.: Toda livraria é um espaço cultural. A TOCA, sem dúvida, presta um importante serviço à cultura. Isto é público. Não tenho, entretanto, qualquer pretensão de cumprir este valioso papel junto aos novos valores. É imprescindível que se faça, mas está completamente fora de meu alcance. É preciso que alguém apareça. E rápido.

B.V.:Para você o que Vinicius de Moraes representa na história da música e da poesia brasileira?

C.A.A.: Amplio ao âmbito geral da cultura brasileira seu perfil de permanentemente atual, tal como reconheceram Mário de Andrade, que, diante de seu "TOMARA", se entusiasmou e o convidou para tomar de sua "CANINHA" e Sérgio Cabral, que ouviu dele um dos pioneiros usos de "BARATO" como sinônimo de muito bom. Eu tenho mais de um Poeta e mais de um Letrista. Mas ele foi o meu grande 'barato'.

B.V.: Atualmente, existe alguma programação especial na TOCA?

C.A.A.: Realizaremos o 2º ENCONTRO BOSSA NOVA - RIO em julho próximo.



Para conhecer esse incrível lugar, onde a música brasileira reina absoluta, a Toca do Vinícius fica na Rua Vinícius de Moraes,129/ loja C e o telefone é: 2247-5227. Você ainda pode visitar o site e o Blog Toca do Vinícius, basta acessar: www.tocadovinicius.com.br http://blogdatocadovinicius.blogspot.com para ficar por dentro de novidades e saber mais sobre o local e eventos.

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