Por Annie Lattari, André Soares e Constança Sabença
Thelmo Fernandes estreou profissionalmente em 1991, após cursar a escola de Teatro Martins Pena e possui um extenso currículo, com mais de 50 peças. Já interpretou personagens marcantes, como o João Grilo, em “O auto da Compadecida”, o travesti Geni, de “A Ópera do Malandro” e Creonte de “Gota D’Água”.
Atualmente, o ator dá vida a Vinicius de Moraes, no Teatro Carlos Gomes, no espetáculo “Tom e Vinicius”, dirigido por Daniel Hertz. Thelmo Fernandes conversou com o blog Banheira do Vinicius sobre o processo de construção do personagem, as emoções vividas na montagem, além da responsabilidade de reviver o mito nos palcos cariocas. Confira a entrevista do ator, que confessou ter se apaixonado pela obra do poeta, principalmente após a oportunidade de se aproximar da intimidade passional de Vinicius.
BANHEIRA DO VINICIUS: Como surgiu o convite para interpretar Vinicius de Moraes?
THELMO FERNANDES: Eu estava em cartaz com “Gota D’Água” quando o Marcelo (Serrado, que interpreta Tom Jobim, no espetáculo) me ligou. Nós já havíamos trabalhado juntos em 2002, no “Beijo no Asfalto”, de Nelson Rodrigues, e ele me convidou para o teste. Na noite em que o Marcelo levou a Susana Moraes (filha de Vinicius com Beatriz Azevedo de Mello, a Tati) para assistir à peça, ela comentou: “Por mim é ele”. Depois fiz uma entrevista com o diretor e ganhei o papel.
BV: Como foi o processo de construção do personagem?
TF: Logo no início conversei com a Susana. Fui no seu escritório e ela me passou uma série de livros, biografias, vídeos, além documentário do Miguel Faria. Dias depois conhecia a Georgiana e a Luciana (filhas do poeta com a terceira esposa, Lila Bôscoli) e vi o documentário “Vinicius, um rapaz de família”, com muitas imagens do arquivo pessoal das filhas dele.
Teve uma noite que foi muito especial. Eu e Guilhermina (Guinle, que interpreta as mulheres de Vinícius na peça) fomos jantar na casa de Maria Lúcia Rangel, a filha de Lúcio Rangel, que apresentou o Vinicius para o Tom, acompanhados das filhas do poeta. Nesta noite, conheci um pouco do Vinicius na intimidade, entre a família e amigos próximos. Matamos uma garrafa de whisky e comecei a construir o personagem por suas paixões, porque ele era um grande apaixonado, por tudo. Vinicius era de extremos, não tinha meio termo. Quando começa a peça, ele tem a mesma idade que eu, 42 anos, e vi que ele não tinha mudado muito para o poeta mais velho que conhecemos. E foi assim que nascia o meu Vinicius.
BV: Como a convivência com a família do “Poetinha”?
TF: Todo esse contato com a família foi inesquecível. Desde os primeiros papos já rolou uma conquista, a gente foi se conquistando. Tive pouco contato com a Marisa (filha do poeta), mas foi emocionante a gente se conheceu depois do espetáculo e nos abraçamos, nem eu nem ela conseguíamos falar naquele momento.
Durante os primeiros ensaios, também tivemos a presença da Ana Jobim (filha de Tom). No começo, eu tremia horrores vendo as filhas lá. Depois fui acostumando, elas deram ótimas idéias e dicas.
BV: Para o ator é maior a responsabilidade de interpretar um personagem ainda tão presente na vida das pessoas?
TF: Sim. É muito difícil. Além de ser um personagem ainda muito presente, todo mundo de certa forma teve o Vinicius em sua vida, intimamente ou através da poesia e isso se torna uma grande responsabilidade. O texto foi feito em paralelo à construção dos ensaios, então optei para criar o Vinicius de dentro pra fora. Não queria fazer uma casaca, uma imitação. Vinicius por dentro era um turbilhão de sentimentos, um furacão, uma dualidade enorme no ser humano. Mesmo ele existindo, como ele viveu, tiver que recriá-lo como ator e foi bem difícil. Hoje é gratificante demais. Confesso que não tinha idéia da dimensão do personagem quando a peça estreou. Dos palcos vi que ele é universal, com o espetáculo pude sentir essa dimensão.
BV: Você era fã de Vinicius antes do espetáculo? A peça te aproximou do universo do poeta?
TF: Conhecia, mas não era fã ardoroso. Conhecia o que todo mundo conhece, era um admirador distante. Quando me aproximei fiquei enlouquecido. Quando um personagem desses cai no nosso colo, o ator se apaixona. É um enorme privilégio poder amar, respeitar e reviver Vinicius de Moraes.
BV: Já se emocionou no palco vivendo Vinicius?
TF: Só me sinto pleno no meu trabalho quando me emociona. Mas não sou ator que viro outra pessoa. Eu faço meu personagem, ando falo como ele, mas tenho consciência que tem o Thelmo aqui de embaixo. Eu componho o personagem mas o teatro é ao vivo, você tem que estar ligado em tudo tem que estar consciente de tudo em sua volta. Mas me emociono diariamente, não tem como não me emocionar.
Bingo! Tô de olho. Quero ver vocês brilhando, garotada. Já viram o post no blog Patolino?
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